quinta-feira, 10 de maio de 2012

O Aniversariante do Dia

Simão Pessoa


Simão Pessoa é um caso raríssimo de "maluco beleza" que não fuma maconha e trabalha pra cacete. Em compensação é um exterminador de Red e cerveja gelada (antártica, de preferência). Simão tem a música na alma (sem pieguismo), além de inúmeras matérias sobre o assunto tem três livros publicados com a temática: Rock, a música que toca, Reggae, a música que pulsa e Funk, a música que bate. Para o desespero de alguns, o Sacana tem um humor afinadíssimo elogiado, nada mais nada menos,  por Millôr Fernandes. Publicou, entre outros, o Folclore Político do Amazonas, Causos de Bamba, Manual do Canalha, Manual do Espada e Manual do Garanhão, depois reunidos no Clássico Alô Doçura. Na poesia tem, entre inúmeras publicações, o imperdível Matou Bashô e foi ao cinema.



Quando resolvi montar uma banca para vender livros usados (Sebo) na Praça da Polícia, juntei os poucos livros que tinha para começar. Dias depois recebi o telefonema do Simão dizendo que tinha uns livros para mim. Recebi, mais ou menos, uns duzentos livros que foram fundamentais para não desistir da loucura nos primeiros dias. Graças a ele (que até hoje continua colaborando) e  outros amigos, estamos na mesma praça até hoje subvivendo de livros usados.

Simão mano,
milabraços...

Simão, Anibal Beça, João Rodrigues e Celestino Neto ("o papai aqui"), durante uma sessão de poesia falada no projeto "Poesia solta na rua", defronte à quadra da Reino Unido há alguns anos atrás 


Ode ao poeta mordaz Simão Pessoa

Anibal Beça

A boca do poeta mordaz
Não se cala ao vento
Amordaça-o no vento
Em nó de nuvens.

Abençoada forquilha
De galho se abrindo
A língua se estica
Para a celebração
Do estilingue:

“Serpent: Penser
Present: Serpent”

Ó idolos de pés de barro
(descalços ou não)
ícones entronizados
mestres santificados
afastai vossas auras
para a passagem
das setas viperinas
(ou serão dardos de açucenas?)
yuppies-macuxis – suburucus 
sintonizai vossas oiças:
todos terão trato adequado
latino-tropical
regado à
guarânia com guaraná

todos terão – sem exclusão – 
a litania dos forcados
um dabacuri
um conciliábulo
de escárnio & maldizer
ao som
de guarânia com guaraná
dançada de parceria
com a vida
na sua antena em guarda
destruindo mil barreiras
e mais os cânones da província

Este Simão Pessoa
(guardem bem o seu nome)
é do meu chão
e do meu coração
e isto nada tem
com a rima fácil
e muito menos
com nenhuma solução
é apenas confissão:

se não me chamasse Anibal
me chamaria Simão



Fonte: Blog do Simão Pessoa


ECSTASY


A solidão me diz 
que nem sempre laço
o que sempre quis


Como estou a mil
eu mando a solidão
pra puta que pariu


NASHUA
(1603-1678)


A PASSAGEM DA PRIMAVERA


No jardim em frente
sob  vento forte
vibra a madressilva


Seu doce bailado
sugere uma bacante
de nudez lasciva


SUSHI
(1652-1703)


(de Matou Bashô e foi ao cinema)


Caramuri, a bola da Copa
Por Simão Pessoa




O projeto “Caramuri – a bola da Copa” continua dando muitos panos pra manga.

Ontem, no finalzinho da tarde, eu, Mestre Pinheiro, Edu do Banjo, Duduzinho do Samba e Beto Mafra fomos convocados pela TV Amazonas (leia-se rede Globo) para uma entrevista com o repórter Rafael e uma apresentação ao vivo da marchinha de sustentação da campanha.
O local escolhido para a lambança foi o imponente Salão dos Espelhos do Atlético Rio Negro Clube, ainda ricamente ornamentado por conta do último baile de carnaval.Adolescente, tentei inutilmente furar o esquema de segurança do clube barriga-preta para entrar no carnaval sem pagar e nunca consegui.
Dessa vez, entrei pela porta da frente e fui recebido pelo presidente do clube. 

Te mete!
A matéria deve ir ao ar no Globo Esportes desse sábado, se não chover.
Durante a entrevista, o Rafael me perguntou se eu já conhecia a fruta caramuri.

Ilustrei minha resposta com um resumo desse causo político abaixo, que teve como testemunha ocular o advogado Sergio Litaiff.

Junho de 1986. 

Candidato a deputado federal, Carrel Benevides, que era vereador em Manaus, resolve garimpar votos no município de Parintins e embarca para lá, com uma comitiva de peso: Luiz Carlos Brandão, Messody Sabbá, Sérgio Litaiff e o ex-prefeito de Presidente Figueiredo, jornalista Mário Jorge. 

A missão da comitiva era conquistar o apoio de uma matriarca do clã dos Assayag, a superbacana Pérola Assayag, na época responsável em Parintins pelo escritório da Taba (Transportes Aéreos da Bacia Amazônica). 
Ao atingir o espaço aéreo da ilha de Tupinambarana, o pequeno bimotor que levava a comitiva do vereador começa a fazer uma série de voos rasantes, o que incluía descidas em parafusos, voos cegos e arremates de ponta-cabeça. 

Os insulares, claro, ganham as ruas, não apenas para apreciar as acrobacias aéreas, mas, principalmente, para torcer secretamente por um erro do piloto, o que faria o bimotor se esborrachar no chão.

É voz corrente na ilha dos bumbás que o verdadeiro parintinense detesta pavulagem, principalmente durante o período eleitoral.

Depois de 15 minutos de acrobacias nos céus de Parintins, finalmente o bimotor pousa na pista do aeroporto local, sob os aplausos de milhares de pessoas. 
Feliz da vida, o vereador Carrel Benevides desce do avião acenando para os milhares de eleitores em potencial, que acorreram ao local em busca do piloto-suicida. 

Depois de distribuir autógrafos, como se fosse um cantor de rock, Carrel sobe na traseira de uma picape e inicia uma apoteótica carreata pelas ruas da cidade. 

Sérgio Litaiff, Mário Jorge e Luiz Carlos Brandão, também aboletados na traseira da picape, providenciam uma queima de morteiros digna de uma milícia taleban.

Depois de azucrinarem a população com o estampido de dez mil tiros de morteiros naquela pachorrenta manhã de domingo, a comitiva para na frente da casa de dona Pérola Assayag.
Sem saber do que se tratava, ela, hospitaleira como sempre, pede pra turma entrar e serve limonada, refrigerante, cafezinho, bolo de milho, pudim de leite e tapioquinhas no coco.

Quando Carrel se apresenta e discorre sobre suas reais intenções, dona Pérola é de uma sinceridade genuinamente parintintim. 

Limpando as mãos no avental imaculadamente branco, ela mira o vereador nos olhos e dispara um exocet de médio alcance:

– O senhor é caramuri!

Carrel Benevides entende “caramuru” e fica todo pimpão. 
Caramuru, como todo mundo sabe, foi o apelido que os tupinambás da Bahia puseram no português Diogo Álvares – náufrago que teria atingido as costas baianas em 1510 – depois de ele ter dado uns tiros de bacamarte pra cima para assustar os nativos e que significa “filho do trovão”. 

Os dez mil tiros de morteiros haviam servido para alguma coisa. 

Com o ego mais inflado do que nunca, o vereador resolve mostrar que foi um bom aluno de História do Brasil:

– Obrigado pela comparação elogiosa, dona Pérola, mas o nome correto não é caramuri, é caramuru...
Aí foi a vez de dona Pérola chutar o pau da barraca:

– Não, meu filho, o nome certo é caramuri. Esse é o nome de uma frutinha que só dá aqui de quatro em quatro anos, igualzinho a um bocado de políticos...

O papo mixou na mesma hora. 

Dez minutos depois, Carrel abandonava a ilha, sem fogos de morteiros ou aplausos apoteóticos, mas bastante injuriado com a história do caramuri. 

Mesmo assim se elegeu deputado federal constituinte, atropelando na reta final um candidato-anta chamado Antar. Mas isso é uma outra história.


Fonte: Blog do Simão Pessoa

Um comentário:

  1. A poesia pode ser uma merda, banal e superficial, mas o Simão é gente fina. Lamento que o Lé faça diferença entre maconha e álccol. O Álccol é o pai, a maconha , o THC, é alcalóide, sobrinho, fraquinho. O Lë. usuário de ambos os expansores sensoriais, sabe bem a diferença! Parabéns , Simão!
    Do seu amigo poeta injustiçado
    Alexandre Otto

    ResponderExcluir